1. Introdução
A relação entre odontologia e oncologia é um campo essencial da saúde multidisciplinar, pois os tratamentos oncológicos frequentemente afetam a cavidade oral. Pacientes em quimioterapia, radioterapia e imunoterapia podem desenvolver diversas complicações bucais, comprometendo sua qualidade de vida e até mesmo a eficácia do tratamento. O cirurgião-dentista desempenha um papel crucial na prevenção, diagnóstico e manejo dessas condições.
Neste artigo, abordaremos as principais complicações orais associadas ao câncer e seus tratamentos, além de estratégias preventivas e terapêuticas que podem auxiliar na manutenção da saúde bucal desses pacientes.
2. A Relação Entre Odontologia e Oncologia
O impacto do câncer na saúde bucal
O câncer, dependendo de sua localização e tipo, pode afetar diretamente a cavidade oral. Neoplasias malignas da boca, cabeça e pescoço são frequentes e exigem intervenção odontológica especializada. Além disso, mesmo pacientes com cânceres sistêmicos podem sofrer complicações bucais devido às terapias agressivas empregadas.
Como os tratamentos oncológicos afetam a cavidade oral
Os tratamentos contra o câncer, como quimioterapia e radioterapia, podem gerar efeitos adversos significativos na boca, como:
- Redução da produção salivar, levando à xerostomia;
- Ulcerações e inflamações nas mucosas, chamadas mucosite oral;
- Aumento do risco de infecções fúngicas, virais e bacterianas;
- Reabsorção óssea e necrose devido à radioterapia em áreas da mandíbula e maxila.
Dessa forma, o acompanhamento odontológico é fundamental antes, durante e após o tratamento oncológico.

3. Principais Complicações Orais Relacionadas ao Tratamento Oncológico
Os efeitos colaterais do tratamento do câncer podem comprometer gravemente a cavidade oral, tornando indispensável a atuação da odontologia e oncologia de forma integrada. A quimioterapia, a radioterapia e a imunoterapia podem causar uma série de alterações bucais, como mucosite, xerostomia, infecções oportunistas e osteorradionecrose, impactando diretamente a qualidade de vida do paciente.
Diante disso, o acompanhamento odontológico especializado se torna essencial para a prevenção e o manejo dessas complicações. Profissionais da odontologia e oncologia trabalham em conjunto para minimizar os efeitos adversos dos tratamentos oncológicos, garantindo que o paciente possa seguir sua terapia sem agravantes na saúde bucal.
Mucosite Oral
A mucosite é uma inflamação dolorosa da mucosa oral, comum em pacientes submetidos à quimioterapia e radioterapia. Pode gerar:
- Lesões ulcerativas severas, dificultando a alimentação e a fala;
- Aumento do risco de infecções oportunistas;
- Necessidade de intervenções para controle da dor.
Xerostomia (Boca Seca)
A redução da produção salivar pode levar a:
- Dificuldade na mastigação e deglutição;
- Aumento do risco de cáries e infecções;
- Desconforto oral e halitose.
Cáries e Doenças Periodontais
A imunossupressão pode favorecer a proliferação de bactérias e levar a:
- Cáries agressivas;
- Periodontites severas;
- Perda dentária precoce.
Osteorradionecrose
A radioterapia em cabeça e pescoço pode causar necrose óssea, resultando em dor, infecção e dificuldade de cicatrização.
Infecções Oportunistas
Pacientes imunossuprimidos são mais suscetíveis a infecções fúngicas (candidíase), virais (herpes simples) e bacterianas.
4. O Papel do Cirurgião-Dentista no Tratamento Oncológico
A odontologia e oncologia estão intrinsecamente relacionadas quando se trata da qualidade de vida dos pacientes em tratamento contra o câncer. O cirurgião-dentista desempenha um papel essencial na prevenção, controle e tratamento das complicações bucais decorrentes da quimioterapia, radioterapia e outros procedimentos oncológicos.
Diante dos impactos significativos que o câncer pode ter na cavidade oral, a atuação do dentista oncológico deve ser estruturada em três fases principais:
Avaliação prévia e planejamento odontológico
Antes do início do tratamento oncológico, é fundamental que o paciente passe por uma avaliação odontológica detalhada. O objetivo é identificar e tratar possíveis focos infecciosos, como cáries extensas, doenças periodontais e restos radiculares, que podem se tornar um problema durante a terapia contra o câncer. A adequação do meio bucal reduz significativamente o risco de infecções e complicações durante o tratamento.
Acompanhamento contínuo durante a terapia oncológica
Durante a quimioterapia e a radioterapia, o paciente pode desenvolver diversas alterações bucais, como mucosite, xerostomia, cáries agressivas e infecções oportunistas. O acompanhamento odontológico regular permite o manejo dessas condições, proporcionando mais conforto ao paciente e garantindo a continuidade do tratamento oncológico sem intercorrências severas.
Além disso, dentro do contexto da odontologia e oncologia, o uso de técnicas como laserterapia pode ser uma excelente alternativa para aliviar a dor e acelerar a cicatrização das lesões da mucosa oral. A recomendação de protocolos de higiene oral adaptados também é essencial para minimizar o impacto das terapias oncológicas na saúde bucal.
Reabilitação oral pós-tratamento
Após a finalização do tratamento oncológico, muitos pacientes apresentam sequelas na cavidade oral, como perda dentária, reabsorção óssea e dificuldade na produção salivar. O cirurgião-dentista deve atuar na reabilitação oral, seja por meio de próteses dentárias, implantes ou outros procedimentos restauradores.
A odontologia e oncologia avançam cada vez mais para oferecer alternativas que melhorem a qualidade de vida desses pacientes. Com a evolução das técnicas odontológicas e a integração do dentista na equipe multidisciplinar, torna-se possível reduzir complicações e proporcionar um atendimento mais humanizado e eficaz para aqueles que enfrentam o câncer.
5. Estratégias Preventivas e Terapêuticas
Higiene Oral Intensificada
- Uso de escovas ultramacias;
- Antissépticos bucais sem álcool;
- Fios dentais especiais e irrigadores orais.
Uso de Laserterapia na Mucosite
A laserterapia de baixa potência é uma alternativa eficaz para:
- Reduzir dor e inflamação;
- Acelerar a cicatrização das lesões.
Manejo da Xerostomia e Reabilitação Salivar
- Uso de saliva artificial e estimulantes salivares;
- Hidratação constante;
- Gomas de mascar sem açúcar para estimular a salivação.
Terapias para Controle da Dor e Inflamação
- Medicamentos tópicos e sistêmicos;
- Aplicação de laserterapia;
- Uso de bochechos anestésicos.

6. Odontologia Hospitalar e a Abordagem Multidisciplinar
A odontologia hospitalar tem um papel essencial no tratamento oncológico, pois pacientes internados ou em tratamento intensivo necessitam de cuidados especializados para evitar complicações orais que podem comprometer sua recuperação.
O Trabalho Integrado com Oncologistas e Outros Profissionais de Saúde
O atendimento odontológico de pacientes oncológicos exige uma abordagem multidisciplinar, envolvendo:
Oncologistas: definição do plano de tratamento e ajuste de terapias em caso de complicações orais.
Fisioterapeutas: reabilitação de funções motoras da cavidade oral.
Nutricionistas: orientação sobre dieta adequada para minimizar impactos na mucosa oral.
Enfermeiros: auxílio na manutenção da higiene bucal hospitalar.
Essa colaboração garante um atendimento mais completo e eficiente, reduzindo riscos de infecções e outras complicações bucais.
Protocolos Hospitalares para Atendimento Odontológico
Os protocolos hospitalares para o atendimento odontológico em pacientes oncológicos incluem:
Avaliação pré-tratamento – Identificação de lesões pré-existentes e remoção de focos infecciosos antes do início da quimioterapia ou radioterapia.
Monitoramento contínuo – Acompanhamento regular do paciente para prevenção e manejo de complicações.
Tratamento de emergência – Controle da dor, infecções e outras condições que possam afetar a continuidade da terapia oncológica.
Reabilitação oral pós-tratamento – Restabelecimento da saúde bucal para melhorar a qualidade de vida do paciente.
7. Caso Clínico: Acompanhamento Odontológico de um Paciente Oncológico
Histórico do Paciente:
Um paciente de 58 anos, diagnosticado com carcinoma espinocelular na região de cabeça e pescoço, iniciou tratamento com radioterapia.
Complicações Desenvolvidas:
Mucosite oral severa, resultando em dor intensa e dificuldade alimentar.
Xerostomia, comprometendo a fala e mastigação.
Infecções fúngicas recorrentes devido à imunossupressão.
Conduta Odontológica:
Pré-tratamento: Extração de dentes comprometidos e adequação do meio bucal.
Durante o tratamento: Laserterapia para reduzir dor da mucosite e uso de saliva artificial.
Pós-tratamento: Reabilitação oral com próteses e terapia para restauração da função salivar.
Resultados:
Após acompanhamento multidisciplinar, o paciente apresentou melhora significativa na qualidade de vida e redução dos efeitos adversos.
8. Evoluções e Tecnologias no Atendimento Odontológico de Pacientes Oncológicos
A odontologia oncológica vem evoluindo com novas tecnologias que melhoram a assistência ao paciente.
Impressão 3D para Próteses Personalizadas
A impressão 3D tem revolucionado a reabilitação de pacientes oncológicos, permitindo:
Desenvolvimento de próteses personalizadas que se ajustam perfeitamente às necessidades do paciente.
Reposição de estruturas ósseas perdidas devido a cirurgias oncológicas.
Maior conforto e adaptação rápida das próteses.
Uso da Inteligência Artificial na Triagem e Diagnóstico
A IA tem auxiliado no diagnóstico precoce de lesões orais associadas ao câncer, através de:
- Algoritmos que identificam padrões suspeitos em imagens clínicas.
- Ferramentas que analisam exames de histopatologia com precisão.
- Redução do tempo de diagnóstico e início mais rápido do tratamento.
9. Importância da Educação Continuada para Profissionais da Odontologia Oncológica
Dada a complexidade dos cuidados odontológicos em pacientes oncológicos, a educação continuada é essencial para dentistas que atuam nessa área.
Principais Benefícios da Atualização Profissional
Aprimoramento técnico – Atualização sobre novas terapias e procedimentos.
Melhor integração com equipes médicas – Maior eficácia na abordagem multidisciplinar.
Melhor embasamento científico – Maior capacidade de lidar com casos clínicos complexos.
10. Conclusão
A interseção entre odontologia e oncologia tem grande relevância na qualidade de vida dos pacientes com câncer. O cirurgião-dentista oncológico desempenha um papel essencial na prevenção, diagnóstico e manejo das complicações orais decorrentes dos tratamentos.
Com o avanço da tecnologia e um trabalho multidisciplinar eficiente, é possível proporcionar um atendimento mais humanizado e eficaz. A constante atualização profissional e o desenvolvimento de novas abordagens terapêuticas são fundamentais para garantir um cuidado odontológico mais seguro e qualificado para esses pacientes.
11. Perguntas Frequentes (FAQs)
- Qual a importância da odontologia na oncologia?
A odontologia oncológica ajuda na prevenção e manejo das complicações orais causadas pelos tratamentos contra o câncer, melhorando a qualidade de vida do paciente.
- Quando um paciente com câncer deve procurar um dentista?
O ideal é realizar uma consulta odontológica antes do início do tratamento oncológico para prevenir infecções e outras complicações.
- Como a laserterapia pode ajudar pacientes oncológicos?
A laserterapia auxilia no tratamento da mucosite oral, reduzindo a dor e acelerando a cicatrização das lesões.
- O que fazer para aliviar a xerostomia durante o tratamento oncológico?
Manter hidratação constante, utilizar saliva artificial e estimular a produção salivar com gomas de mascar sem açúcar são estratégias eficazes.
- Quais profissionais trabalham junto com o dentista no tratamento oncológico?
Oncologistas, fisioterapeutas, nutricionistas, fonoaudiólogos e enfermeiros trabalham em conjunto para oferecer um tratamento mais completo e eficiente.
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